Portugal
perdeu população, o Alentejo perdeu população, o Alandroal perdeu população.
Passam
as décadas e a tendência subsiste. Agrava-se mesmo em concelhos com população
muito envelhecida.
Não
há uma causa única, assim como não há uma solução única.
Há
evidências, há constrangimentos e há caminhos.
Os
constrangimentos da falta de auto-estradas digitais e de instrumentos de
ordenamento do território demasiado restritivos têm que ser ultrapassados.
As
sociedades modernas caminham sempre para a redução da natalidade. Quem tem
condições económicas para ter mais filhos opta por não os ter. Quem gostaria de
ter mais filhos não consegue por falta de condições económicas. Sem fortes
estímulos centrais não se contraria esta tendência.
Para
além da tendência geral, a ocupação desigual do território também contribui
para este efeito. Em Portugal são dois terços do país a sofrer com isto. Sem
políticas centrais e profundas de ocupação equilibrada do território também não
se contraria a maior desertificação do interior.
Como
vejo o Alandroal neste contexto? Num momento de viragem, sem dúvida.
Mais
tarde do que devia? Sim, sem dúvida também.
Algumas
das oportunidades do concelho deviam ter sido prioridades há décadas e
estaríamos hoje noutra posição.
Já
devíamos ter os três castelos recuperados, como âncoras de investimento para os
centros históricos. Devíamos ter museus. Devíamos ter igrejas, capelas e
santuários valorizados. Castros antigos e sítios arqueológicos visitáveis e
acessíveis...
Há
centros históricos na nossa vizinhança que são hoje grandes polos de criação de
dinâmicas e de emprego que levaram 20 a 30 anos a “levantar” e que levam esse
avanço em investimento sucessivo e metódico em reabilitação e valorização. Honra seja feita à visão dos autarcas por
detrás desses processos.
Bem
mais fácil é não fazer nada a este nível, como aconteceu no Alandroal durante
quase 30 anos de poder local ou, como aconteceu há 20 anos, começar “a casa
pelo telhado” transformando o património em “marca” mas sem suporte e sem
expressão na materialização que habitantes locais e visitantes dele poderiam
extrair em valor cultural ou económico. Vendeu-se um produto que não podia ser
consumido. O resultado foi a deceção.
Também
na dinamização do tecido empresarial estamos muito aquém do que podíamos estar.
Nem falo de grandes fábricas, mas de toda uma rede de pequenas e médias
empresas que falta criar. Depois de décadas de inércia, mais uma casa começada
pelo telhado: em vez da criação de viveiros de empresas e espaços para pequenas
indústrias e negócios gastarem-se milhões e milhões em feiras que promoviam o
que ainda não existia. Um fogacho de “dinâmica” sem alicerces e sem
consequência. A primeira associação empresarial do concelho foi criada há 10
anos e não vingou. O primeiro viveiro de empresas do concelho está agora a
poucos meses de ser construído.
Também
aqui temos que recuperar muito do tempo perdido.
Também
aqui temos a oportunidade de o fazer bem, com foco na valorização dos produtos
locais de origem biológica, na criação de redes de co-working e de espaços de
teletrabalho e na criação de zonas indústrias dinâmicas, modernas e conectadas.
Outras
das grandes oportunidades do concelho são recentes, resultam de novas
conjunturas, novas formas de encarar o desenvolvimento. Estão a surgir agora e
este é o momento de as aproveitar.
A
ferrovia que vai atravessar o concelho, a navegabilidade do Guadiana
Internacional de Badajoz a Alqueva (Juromenha) e a produção de energias
renováveis são o grande exemplo disso. Quantos concelhos conjugam todos estes
fatores?
No
caso destas energias, não se trata apenas de produzir em grande escala energia
solar, eólica ou hidrogénio verde, com a consequente criação de empregos, mas
também da criação de um verdadeiro polo de inovação aberto a novas formas,
soluções e tecnologias associadas à energia limpa e, acima de tudo, fazer com
que isso chegue às pessoas e às instituições na fatura da eletricidade e em
todas as experiências do dia a dia. Poucos o terão já percebido, mas essa é a
verdadeira revolução que está a começar a acontecer.
Estamos
a viver um momento único. A concretizar as oportunidades do passado e a agarrar
as do futuro. A pandemia atrasou alguns processos, mas vai criar novas formas
de atrair população.
Os
Censos de 2031 estão ao virar da esquina e ninguém nos perdoaria se
interrompêssemos este ciclo e perdêssemos estas oportunidades com mais uma
década a não fazer o que é preciso.
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