Portugal
e Espanha consideram que a actual situação da pandemia é diferente da registada
em Março, justificando medidas cirúrgicas e pontuais, e não vão encerrar as
fronteiras comuns, referiram os chefes da diplomacia dos dois países.
A
actual fase da Covid-19, e as perspectivas da próxima Cimeira luso-espanhola,
que vai decorrer na cidade da Guarda em 2 e 3 de Outubro, dominaram a
conferência de imprensa de Augusto Santos Silva e da sua homóloga espanhola
Arancha González Laia, na sexta-feira, em Lisboa, que na sua reunião de
trabalho também abordaram diversos tópicos da agenda europeia e temas
internacionais.
“Não”,
respondeu Augusto Santos Silva sobre um eventual encerramento das fronteiras
comuns. “Não é fechando-nos que resolveremos este problema comum que temos, a
pandemia”.
“Pelo
contrário, é cooperando entre nós e fazendo o que temos de fazer ao nível dos
poderes públicos, manter e incrementar a capacidade de resposta dos nossos
sistemas de saúde e sensibilizar os nossos concidadãos, porque esta luta contra
a pandemia ganha-se com a contribuição e o esforço de cada um”, defendeu o
chefe da diplomacia portuguesa.
Uma
posição corroborada por Arancha González Laia, ao insistir que a situação em
Espanha e em Portugal não é uma excepção, mas a regra, e revelar que nesta fase
existe uma elevada taxa de infecções de pessoas assintomáticas, o que coloca
novos desafios.
“Os
surtos que estão a ocorrer em Espanha e Portugal são os mesmos surtos a que
assistimos em França, Itália, Áustria, Países Baixos, Reino Unido e, portanto,
não são a excepção, são a regra”, afirmou.
“A nossa responsabilidade é geri-los. Em Espanha mais de metade das pessoas contagiadas são assintomáticas, o que dá uma ideia do esforço do país em testes (…) e que se imponha o isolamento cirúrgico dos cidadãos que testaram positivo”, precisou a ministra espanhola.
A
chefe da diplomacia de Espanha também excluiu o encerramento das fronteiras
nesta nova fase do vírus e defendeu uma resposta “cirúrgica”, para evitar que
novos surtos em diversos países europeus se convertam num problema para os
serviços de saúde.
“Temos
de ser capazes de tratar e de controlar e procurar esse tratamento cirúrgico do
vírus enquanto também mantemos um espaço de liberdade nas nossas economias, nas
nossas sociedades, para que os nossos países possam continuar a funcionar e com
grandes doses de responsabilidade social”, assinalou.
Arancha
González Laia insistiu que em Espanha os cidadãos estão a ser confinados de
forma cirúrgica “porque não se confina o país”, e considerou a actual situação
diversa da registada em Março.
“Com
medidas mais pontuais e decididas, podem manter-se as fronteiras abertas, a
liberdade de circulação da maioria dos nossos cidadãos e enquanto se protege a
sua saúde. (…). Vamos continuar a gerir esta nova fase da pandemia que,
insisto, onde os nossos dois países não são a excepção mas a norma”, disse a
ministra.
Augusto Santos Silva também frisou que, no caso de Portugal, o número de contágios está a aumentar, ao contrário das pessoas hospitalizadas ou internadas nos cuidados intensivos.
“É
uma nova realidade. (…) É muito importante entender que somos todos europeus e
integrantes da União Europeia. E, portanto, não se trata de estabelecer
diferenças ou divisões entre países”, disse, para apelar um esforço a nível
europeu através de medidas coordenadas.
Numa
referência à Cimeira luso-espanhola de 2 e 3 de Outubro, o chefe da diplomacia
portuguesa admitiu que o tema da cooperação económica e da cooperação bilateral
nessa recuperação “vai ser um tema central, senão o tema central” desta reunião
dos chefes de Governo dos dois países, e com um enfoque na cooperação
transfronteiriça.
A
homóloga de Madrid reforçou esta abordagem, ao assinalar que a Cimeira “procura
dar resposta aos pedidos de empresas, cidadãos, comunidades autónomas,
municípios, dos dois lados da fronteira, que pedem que coloquemos a ênfase na
recuperação económica e social na sequência da crise”.
E
ao estabelecer o objectivo essencial da Cimeira, Arancha González Laia referiu-se
ao impulsionamento uma “estratégia transfronteiriça” para responder às zonas
transfronteiriças entre Espanha e Portugal.
“Neste momento de crise pós-covid, é quando faz mais sentido esta estratégica transfronteiriça, na qual pretendemos visualizar o empenho dos nossos governos progressistas que somos, em impulsionar uma recuperação económica que não deixe ninguém para trás e que se concentre em particular nas zonas mais despovoadas, as que talvez sofreram o maior impacto económico desta crise. Zonas transfronteiriças que juntos queremos alterar de uma forma muito decidida para impulsionar a transformação económica e social das nossas regiões fronteiriças”, sustentou.
Os
chefes da diplomacia de Portugal e Espanha não confirmaram o reinício das ligações
ferroviárias entre Lisboa e Madrid, interrompidas desde Março, um tema que
também será abordado na cimeira da Guarda.
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