Tem 61 anos, mas Rufino
Borrego, natural da vila de Alandroal, passou praticamente toda a sua vida
confinado a uma cadeira de rodas devido a uma doença diagnosticada quando tinha
13 anos, a distrofia muscular incurável, mas que, posteriormente, o diagnostico
viria a ser alterado para miastenia congénita.
Com o diagnostico correto,
foi possível alterar a medicação, e Rufino Borrego deixou a cadeira de rodas
permanentemente, mas ainda recorrendo a ela quando as distancias a percorrer
são maiores.
Rufino Borrego em
entrevista à Rádio Campanário, conta que os sintomas da doença surgiram quando
tinha 8 anos, e na escola primária, caía frequentemente e tinha muita
dificuldade em se levantar, necessitando sempre de ajuda.
As primeiras consultas
ocorreram em Évora e como havia a especialidade de neurologia, foi encaminhado
para Lisboa, tendo também passado por Alcoitão.
Foi em 1966 que Rufino
Borrego fez a sua primeira biopsia, mas o resultado foi inconclusivo, sendo os
principais sintomas, as quedas frequentes e a dificuldade em se levantar, “é
uma doença que vai ao longo do tempo perdendo qualidade de vida e cada vez mais
dificuldade em nos movimentarmos”.
Diz que aos 13 anos já
andava em cadeira de rodas e perdia cada vez mais, a força muscular “nessa
altura já era o meu pai que me tinha que transportar”.
Em maio de 2011, tomou
Ventilan, cujo princípio ativo - salbutamol - tem um efeito benéfico para quem
sofre desta rara doença e, no dia seguinte, Rufino caminhava pelo seu próprio
pé.
Questionado, refere que
padece de “uma doença genética, mas na altura a medicina não era o que é hoje,
e a única possibilidade de diagnosticar estes sintomas, era o que estava
descrito em livros, que era uma distrofia muscular e progressiva que foi
evoluindo”.
Rufino Borrego salienta
que nunca teve conhecimento que alguém, na sua família, tenha padecido desta
doença, “só mais tarde é que a minha irmã casou, engravidou, e na altura da
gravidez, com a alteração do corpo, manifestou-se nela (…) mas não tão gravosa
como em mim, porque não necessitou de cadeira de rodas”.
Ao longo dos anos, Rufino,
foi sempre acompanhado e foi fazendo exames, e “em 1979, através de uma outra
biopsia no Hospital de Santa Maria, 13 anos mais tarde, o diagnostico foi
definitivo e chegaram à conclusão que era uma distrofia muscular progressiva
miopática das cinturas, cintura pélvica e escapular, o que impedia de caminhar,
ignição de forças nas pernas e também nos braços, eu vivia em função do tempo,
não havia medicação para isso”.
Quando perguntado se
considera que houve um erro de diagnostico, diz que não, nem se revoltou
“contra a situação da altura. A evolução da medicina tem sido diária e na
altura era o diagnostico que era possível fazer (…) não poderia nunca considerar
um erro”.
O entanto, Rufino Borrego
não considera que voltar a andar seja um milagre, embora seja “um homem de fé,
mas muito cético a milagres” porque tendo vivido uma vida inteira com
limitações e cada vez evoluindo mais a doença, não me levava a acreditar na
religião, porque Deus quer o bem, se Cristo padeceu por nós, se protege as
pessoas, na mesma família, duas pessoas padecerem da doença, de idades
diferentes, isso não me leva a sentir revoltado, mas descrente”.
Questionada sobre o que
terá despoletado toda a curiosidade em volta do seu caso em 2016, quando foi em
2011 que se verificaram acentuadas melhorias, tendo inclusivamente deixado a
cadeira de rodas, diz que “foi um mero acaso há cerca de um mês (…) um senhor
faleceu no Alandroal (…) e como eu saí da minha casa e dirigi-me à Igreja (…)
subindo os degraus sem apoio nenhum, e um amigo que estava de frente olhou para
mim e ficou parado e quis saber a história e eu contei-lhe (…) que há cinco
anos que sou independente, e o filho dele assistiu à conversa e que em Lisboa
contou a um jornalista que foi seu colega de estudo (…) e que quis falar
comigo”.
Instado sobre se
identifica o seu caso com o que tem sido publicado na comunicação social,
Rufino afirma que “houve um empolar muito grande da noticia (…) não era
intenção que tomasse esta proporção que tomou, mas uma coisa normal”.
Relativamente ao que não
corresponde à verdade, expressa que “foi uma situação muito empolada e não é um
caso de milagre (…) porque eu trago em cima de mim uma bomba relógio, um dia
que tenha uma queda, ou uma rotura muscular, esse musculo vai à vida, se houver
um esforço grande que o musculo não suporte, porque estão muito fracos, a
situação inverte-se e posso voltar ao que estava”.
A reportagem da Rádio
Campanário falou também com a irmã de Rufino Borrego, Vicência Borrego, que
padece da mesma doença, mas a quem os sintomas só mais tarde se
manifestaram.
Vicência Borrego expressa
que no seu caso, a doença não foi tão agravada, presumivelmente ao facto de ser
do sexo feminino, “há doenças neuromusculares que não afetam tanto o sexo
feminino como o masculino, e o Rufino foi afetado desde criança, embora eu
tivesse muitas limitações e não pudesse fazer muitas coisas como as outras
crianças”.
Salienta que a maior
dificuldade do irmão residia “no andar e eu só a partir dos 22 anos” é que a
doença se tornou mais evidente, “comecei a perder forças, a perder faculdades”,
acrescentando que depois de ter sido mãe, melhorou um pouco, embora continuasse
a andar com dificuldades, “mas com 42 anos comecei a estar mais tempo deitada
do que levantada porque não me conseguia movimentar”.
Entretanto a filha atingiu
os 22 anos e quis saber se era portadora da doença, tendo o resultado sido negativo.
Vicência Borrego não
considera que foram vitimas de negligencia do Hospital porque eram feitos
exames periodicamente, “mas que não davam resultado, era como se não tivesse
quase nada, como se tivesse uma doença miopática no principio”.
Alerta que numa dessas
consultas, depois de o seu médico assistente se ter reformado, “tivemos a sorte
de encontrar uma médica espetacular que nunca nos deixou”, tendo percebido que
o diagnostico era diferente.
Explica que foi feita uma
análise aos dois irmãos, cuja amostra foi enviada para a Alemanha.
Questionada se considera
que estão curados, diz que “estão melhores, não curados, tem que se frisar
isso, porque de um momento para o outro podemos voltar ao mesmo, isto é, uma
bomba relógio, se eu tiver que ser operada e não tiver tempo de avisar na sala
de operações, posso voltar ao mesmo, se tiver uma constipação não posso tomar
todos os medicamentos, tenho uma lista dos medicamentos que não posso tomar”.
Assinala que neste caso, o
milagre que existe é o de estarem melhores e haver um medicamento que nos
proporciona melhorias, milagre será a cura completa e cura não temos”.
Realça que o irmão não
deixou a cadeira de rodas, não precisa dela “em curtas distancias, mas precisa
dela para longas distancias porque os músculos começam a estar cansados e ele
tem que descansar, isso é como uma lâmpada que de um momento para o outro deixa
de dar luz, os nossos músculos de um momento para o outro podem parar, o
cérebro não dá a informação ao musculo e o musculo pára”.
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