João Miguel Silvestre Alegrias é alentejano, natural de Vila
Viçosa e um dos dois designers gráficos do Europeu de Futebol de França, em
2016. Fez toda a decoração dos interiores e exteriores de cinco dos dez
estádios, Nice, Lyon, Bordéus, Parque dos Príncipes e o estádio de França,
palco da abertura e da final da competição, dos centros de treino e a IBC
(International Broadcast Centre) para receber todos os media do mundo, a par
com outro designer Alemão sediado na Suíça, que fez os restantes estádios.
Esteve ainda por trás da elaboração das “fan zones” e dos autocarros oficiais.
Foi um ano e meio de trabalho que acabou hoje de manhã com o arco da final do
Europeu, onde Portugal defronta a
Tribuna Alentejo (TA): Como é que um alentejano vai viver
para França e acaba a conceber as artes gráficas de um dos maiores eventos
desportivos do mundo, como o Europeu de Futebol?
João Alegrias (JMSA): Em setembro faz cinco anos que cá
cheguei, e deste então tudo parece correr muito
JMSA: DOR … Muita dor, trabalho na célula internacional para
este projeto e temos alemães, ingleses, franceses obviamente, um sul africano e
um alentejano, por isso podem imaginar o quanto tenho sido “carregado” no
estúdio, sobretudo na fase de grupos.
A meu ver a inclusão de Adrien e Renato no onze, fortaleceu
em muito a nossa equipa, mesmo que considere que Fernando Santos tem uma
tendência muito defensiva. Com o País de Gales, mais uma vez, os primeiros 15,
20 minutos devíamos sufoca-los para eles sentirem quem estava do outro lado do
campo e mais uma vez estivemos passivos, mas estamos na final e estou cada vez
mais convencido que chegou a nossa hora!
TA: Além da preparação
de todo o cenário, qual é a sensação de pisar o mesmo relvado que serve palco a
grandes ídolos, como Ronaldo? Tiveste oportunidade de conviver com alguns dos
jogadores ou trocar impressões com eles?
JMSA: Como já vos disse, sou um apaixonado pelo futebol, e
estando envolvido numa competição desta dimensão, sinto-me como um autêntico
“gaiato”.
Sim em Paris contra a Áustria vi-os todos à entrada dos
balneários, o Nani prometeu-me uma camisola ao fim do jogo quando foi à zona
anti-doping. Mas o jogo seguinte era em Lyon e eu não fui, mas na final acho
que vai levar um “toque“ meu para se lembrar. Tirando ele, só falei com o
Humberto Coelho no fim do jogo também
TA: Todo este evento tem ajudado a matar as saudades de
Portugal e do Alentejo?
JMSA: Ao início nem tanto, quando estávamos ainda nas fases
de procura das melhores cores a utilizar e as formas gráficas utilizadas no
background general, mas quando comecei os estádios, os primeiros briefs
chegaram do estádio de Lyon e quando fiz os bancos de suplentes, pela primeira
vez utilizava as bandeiras e o nome dos países, e Portugal estava la … podem
imaginar! Saudade é uma palavra unicamente portuguesa, sem tradução possível
noutras línguas, por isso sim, eu sinto-a, mas tenho a melhor família do mundo,
e os melhores amigos que existem, com as redes sociais estou sempre ligado ao
nosso cantinho de terra.
TA: Como te sentiste ao preparar todo o evento e ao colocar a
bandeira portuguesa no arco da final?
JMSA: Tenho vivido um sonho, ao início tive muitas noites sem
dormir, quando soube que ia fazer o Euro 2016, e já eu sonhava com Portugal na
final.
Este projeto ajudou-me a crescer, aprendi muito e deu-me
confiança para continuar neste tipo de eventos desportivos.
Saber que o último ficheiro que fiz tem a bandeira do nosso
país é magico, ainda hoje de manhã meti fado no escritório, agora que estou
longe, sinto o nosso país de outra forma. Ainda por cima, este ano, alguns
jornalistas franceses, têm tratado Portugal de uma forma, a meu ver,
escandalosa, mesmo que jogássemos o pior futebol do mundo, eu como português
senti-me ofendido, por isso e por todas as vezes que eles já nos eliminaram,
peço apenas 1-0 com um golo aos 89’ do CR7 com a mão e em claro fora de jogo.
Domingo estarei no estádio a gritar por todos os alentejanos
juntos, que sejamos finalmente CAMPEÕES DA EUROPA!
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